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DIANA

 

Na época meu filho era autista (foi curado por Jesus) e um dos médicos que o assistia aconselhou comprarmos um animal para ser bicho de estimação. Na “Feira de filhotes”, o observamos diante dos animais.  Eram muitas espécies, desde cães até peixinhos, passando por pássaros, jabutis e gatos...  Gatos?

Ele ficou olhando para uma ninhada de siameses, mas apenas se deteve diante da gaiola.  Só que o preço do filhotinho era incompatível com o nosso bolso.  Compramos o jornal Balcão e achamos alguém vendendo gatinhos siameses bem perto de nossa casa. Me lembro do apartamento acarpetado e do cheiro forte, e, de uma linda gatinha que nos olhou, como se dissesse: “Eu sabia que vocês viriam para me levar para sua casa”.  Amor à primeira vista.

- Mas, uma gata?  E a miação quando ela tiver no cio? Você vai agüentar?

O olhar da bichinha foi interrompido com um piscar de pálpebras.

- Arrumamos um namorado pra ela.  Observando bem, ela tem cara de princesa.

Vai se chamar Diana.

Meu filho olhou para a bichana e ela o amou. Com certeza, a sua percepção felina viu o quanto ele era especial. Diana foi crescendo e cuidou dele como uma mãe. Quando gripado ou febril, ela ficava deitado do seu lado, e de vez em quando, levantava para cheiras suas narinas. Depois deitava de novo com a cara sobre as patas dianteiras cruzadas. E o cio chegou. Horrível e angustiante. Precisávamos encontrar um parceiro para ela. Tentamos um gato chamado Charles, que ela odiou, quase furaram os olhos um do outro. Depois, apresentamos um gatão que morava no salão de cabeleireiro.

Os dois tiveram sete gatinhos (seis machos e uma fêmea). Michael, Prince, Pierre, Roger, Gismum, Sebastian e Lisa.

Ficamos esperando os filhotes nascerem. Ela foi para debaixo da cama. Arrumamos um espaço com os jornais e um pano limpo enquanto providenciávamos uma caixa-ninho. Gismum era o mais feinho.

Diana lambia cada cria, e todos juntos aos seus peitinhos mamando, fazia seus olhos semi-abertos traduzirem o grau de sua satisfação. Observando tudo isso, vi que a maternidade é divina em toda a espera da natureza. Ao colocarmos cada gatinho em nosso colo, despertamos em Diana um ciúme, que fez com que ela levasse os filhotes para dentro do guarda-roupa. Tínhamos uma nova família em casa.

Alguns dias depois, o tempo chuvoso fez a temperatura cair um pouco, e nas entradas e saídas de Diana do guarda-roupa, a porta ficou entreaberta; e Gismum caiu no chão.

Pela manhã, ao levarmos alimento para a gata, vimos o gatinho no chão já morto.

Diana saiu do seu esconderijo, e se deparou com seu filhote. Soltou um longo e alto miado e começou a lamber a cria freneticamente. Revirava o filhote.

Aquela cena angustiou o meu coração. Peguei o Gismum e o coloquei numa caixa de presentes com uns jornais amassados, amarrei e dei um sumiço nele. Diana levou um tempo para aceitar a perda do filhote. Cheirava o lugar várias vezes.

De repente, levou cada um dos filhotes pela boca, de volta para a caixa debaixo da cama.

Que mãe!

Ela miava e eles paravam o que estavam fazendo para segui-la. Sete gatos.

Era muito gato. Dois meses já haviam se passado. Ela subia no sofá, pulava e embaixo, encorajava cada filhote a pular também. Fomos observando a personalidade de cada um. Uns mais atrevidos outros medrosos e outros desengonçados. Decidimos presentear os amigos com a prole da Diana. Isso porque queríamos estar em contato com cada um deles. Ficamos com a Lisa, o Michael, e óbvio, a Diana.

Ao darmos os outros, Diana deixou de miar.  Por anos ela não miou. Até que Lisa entrou no cio e cruzou com o Michael. Antes, Diana e Michael disputavam o território e as pessoas da casa. A Lisa era o bicho mais desligado que já vi, não sei como ficou prenhe. Quando os filhotes da Lisa nasceram, ela largou os bichinhos, foi comer e não voltou para a caixa. Diana lambia os netos e, deitou-se junto dos três gatinhos que foram para suas tetas. Tentamos levar Lisa de volta para amamentar os seus filhotes, mas a mãe desnaturada não queria nada com a maternidade. Para nossa surpresa, os gatinhos sugavam na Diana. Com a Lisa no colo, ouvi o longo miado da Diana depois de mais de anos, como se, me dizendo: “Ela não quer, eu quero e sou mãe de novo”.

O leite de Lisa secou, e Diana desenvolveu lindas tetas.

Mãe. De nodo. Dois meses depois. Tudo de novo.

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