HELOISA PRADO
O CONSTRUTOR
Sérgio fugiu de casa quando sua mãe arranjou um namorado. O cara começou a implicar com o garoto porque a Marcela tratava o filho como um reizinho.
_ É a cara do Fábio, meu primeiro amor. – dizia ela orgulhosa.
_ Pára com isso mulher.
_ Não adianta você reclamar, o Fábio foi o primeiro e me deu um filho.
_ E eu? Sou seu homem e não gosto de concorrência.
Um dia houve uma grande briga e Marcela pediu pra Sérgio ir embora por um tempo. Sérgio não era de rua, estava na rua somente. Um dia resolveu construir sua casa com entulhos, seu sonho era ser um grande arquiteto. Escolheu um local perto da mata ao lado de um parque no Rio de Janeiro. Fincou as estacas, trançou as paredes com fibras e revestiu de barro como uma casa de sapê, plantou uns musgos e com cacos de vidro fez o revestimento interno. Primeiro um cômodo, depois outro, depois outro e lá se foram doze anos. Sérgio é peão de obra e adora incrementar seu lar.
Numa reforma do parque, ambientalistas e engenheiros foram até a casa do Sérgio que estava trabalhando sua casa.
_ Que interessante! Pode contar pra nós como fez tudo isso? – perguntou a arquiteta tocando em cada detalhe da casa.
_ Antes quero saber por que estão aqui?
_ Esse terreno agora tem dono, vão construir um condomínio.
_ Eu sou dono desse lugar.
_ Sérgio, é esse o seu nome não é?
_ Como sabem?
_ Viemos ver sua casa.
_ Moro aqui faz doze anos.
_ Sabemos disso, voltaremos outro dia com novidades.
Passados mais de mês em agonia profunda, Sérgio recebe a visita de outras pessoas.
Incorporaram sua casa ao projeto arquitetônico do condomínio e mostraram pra ele o desenho. Sérgio fica emocionado.
_ Vou poder continuar morando aqui?
_ Não. Vamos fazer um apartamento pra você em troca da obra de arte que é sua casa.
_ Por que estão dando tanto, não é normal?
_ E sabemos que você quer estudar; alguém vai patrocinar tudo.
_ Não entendi.
Ninguém responde as suas perguntas. Olhando melhor os papéis vê uma foto dos donos da construtora e presta atenção a um deles: Fábio Cerqueira, engenheiro responsável. O homem tem a sua cara, só que um pouco mais velho.